Os presidentes Lula e Donald Trump se reuniram neste domingo na Malásia, à margem de uma cúpula de líderes asiáticos. O encontro, que durou cerca de 50 minutos, foi classificado por Lula como “ótimo” e pelo chanceler brasileiro como “muito positivo” e “amistoso”.
O tema central foi a busca por uma solução para o “tarifaço” imposto pelos EUA sobre produtos brasileiros. Trump sinalizou estar aberto a rever as tarifas se “as condições certas fossem alcançadas” nas relações bilaterais, enquanto o governo brasileiro propôs a suspensão imediata das taxas durante o período de negociação.
OPINIÃO
Para quem ainda está preso no conto de fadas de que as relações de poder se resumem a bandidos e mocinhos, o encontro na Malásia prova que a realidade sempre atropela o fetiche do torcedor ideológico.
E é justamente aí que entra o jogo real das negociações: enquanto o público discute heróis e vilões, Trump joga xadrez comercial. Se há algo que ele domina com maestria, são os negócios.
Lamento dizer à galera que ainda acredita que Bolsonaro representa o ativo crucial dessa disputa. A questão da anistia é, na verdade, um artifício usado como oportunidade para levar à mesa duas pautas ao invés de uma — gerando vantagem competitiva à parte americana e deixando-a um passo à frente.
Como bom negociador, Trump sabe que precisa abrir mão de uma das pautas para conseguir a outra — técnica clássica de barganha. O sacrifício tem nome: anistia. Mas seu propósito sempre foi um só — os minerais críticos, essenciais para o setor tecnológico dos EUA.
Trump abre mão da anistia e, de bônus, encerra o tarifaço em troca das terras raras brasileiras. Lula sairá da mesa acreditando que fez um ótimo negócio porque Trump cedeu em dois pontos (tarifaço + anistia), enquanto o Brasil só cedeu um (terras raras). No entanto, desde o início, os EUA só queriam as terras. A anistia foi o bode na sala.
Desenhando:
Brasil antes do tarifaço: tarifa zero = 1 ponto; minérios intactos = 1 ponto; sem anistia = 1 ponto → Total = 3 pontos.
Brasil após tarifaço: tarifa 50% = -1 ponto; minérios intactos = 1 ponto; sanções (Magnitsky) = -1 ponto → Total = 1 ponto.
Brasil após acordo: tarifa zero = 1 ponto; minérios explorados pelos EUA = -1 ponto; sanções revogadas = 1 ponto → Total = 2 pontos.
Quem, no final, se deu bem?
E pra fechar o domingo, você que ainda pertence a alguma das tribos torcedoras, leve este pensamento com você:
“Nas relações de poder, não existe lado, apenas jogadores.”
De nada.
Márcio Labre — articulista e comentarista político.

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